Atualizado em: 28/02/2024 – 09:02:10

Professora e pesquisadora da Faculdade Santa Casa BH, a bióloga, bioquímica e neurocientista Maria Elena de Lima Garcia foi premiada pela revista suíça Toxins, pelo seu trabalho que investiga diferentes ações farmacológicas do uso do veneno da Phoneutria nigriventer, a aranha armadeira. O reconhecimento aconteceu em dezembro de 2022, durante o 1º Congresso Internacional de Animais Venenosos, realizado na Universidade Federal de Roraima (UFRR), em Boa Vista. 

O trabalho de Maria Elena – que foi um dos reconhecidos pela revista – resultou de diversos estudos que usam como base o BZ371 (também conhecido como PnPP-19), peptídeo sintético criado por ela, em laboratório. A molécula surgiu a partir de um dos componentes do veneno da aranha armadeira que foi estudado e manipulado pela pesquisadora, de modo que perdesse sua toxicidade, preservando, por outro lado, a propriedade liberadora de óxido nítrico, gás neurotransmissor/neuromodulador que pode ser ativo contra a disfunção erétil, o glaucoma, a neuropatia isquêmica óptica, a síndrome respiratória aguda, a hipertensão pulmonar e a psoríase. 

Após a síntese e diversos estudos com o BZ371, a tecnologia foi transferida para a empresa brasileira Biozeus Biofarmacêutica, que obteve a concessão de patentes em mais de 20 países, sendo que  outros dez depósitos estão em fase de análise. 

Segundo revela Maria Elena, de todos os estudos que estão sendo desenvolvidos pela Biozeus com o peptídeo, o da disfunção erétil é o mais avançado, tendo sido finalizada, no fim de 2022, a fase clínica 1, que comprova que a molécula não apresenta riscos para o organismo humano. “Essa fase foi realizada após aprovação pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e, agora, estamos aguardando o resultado oficial, mas tudo indica que os testes foram bem sucedidos. Ou seja, a pesquisa já pode ir para a fase 2, que consiste em um ensaio com um grupo de pacientes direcionados, comparando as respostas com um grupo saudável. Caso avance em todo o processo de validação, que conta com quatro fases, incluindo também a fase pré-clínica (feita em animais e já concluída),  a substância poderá vir a ser comercializada, em forma de medicamento”, explica a pesquisadora e professora da Faculdade Santa Casa BH. 

Maria Elena pontua ainda que, os demais estudos com o BZ371, iniciados pelo seu grupo e colaboradores, como o glaucoma por exemplo, com o apoio do Prof.Armando Cunha da Fac.Farmácia da UFMG, também seguem avançando com o apoio da Biozeus. “O peptídeo se mostrou eficaz, por exemplo, na redução da pressão ocular, o que pode sinalizar um futuro tratamento para o glaucoma”. Outros estudos com esse peptídeo,  conduzidos pela Biozeus, incluem a diminuição da pressão arterial pulmonar e da inflamação desse órgão,  o que indica uma possível aplicação nas inflamações causadas pela Covid-19. De um modo geral, as expectativas são muito boas”, conclui. 

  

Outras pesquisas

 Professora titular aposentada do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Maria Elena também conduz outros estudos na Faculdade Santa Casa BH – onde atua como docente há quatro anos – juntamente com seus orientandos. Uma dessas pesquisas mostra a potente ação de peptídeos sintéticos contra a dor neuropática diabética. Em outro trabalho, o grupo vem mostrando o efeito de peptídeos sintéticos derivados de moléculas do veneno da Lycosa erythrognatha – conhecida como aranha-de-jardim – que são muito ativos contra bactérias hospitalares resistentes, um problema de saúde pública com grande potencial para gerar novas pandemias.